20.5.18

O DESEJO DO VERBO





Ainda não sei o que á a poesia.
Mas, vou sabendo o que ela não é.
A poesia não é um assunto ou um tratado. Não se ensina.
A poesia lê-se. Ouve-se. Intui-se. Faz-se. Flui esteticamente.
A poesia é de pouquíssima gente.

Os poetas respiram, falam e ouvem com a imaginação.
Por meu lado, escrevo para chegar às clareiras interiores da fala.
O vidro, a vida e o vento deram-me inumeráveis 
e magnificentíssimas palavras.
E, se de repente, eu pudesse congregar 
todos os vocábulos que ouvi, todas as frases que li, 
todos os cantos e palavras que ritmaram o quotidiano?

Há palavras de silêncio e o silêncio deixado pelas palavras.
Afectos de palavras e palavras aproximativas. 
Palavras de desprezo, de ruptura e palavras de aprumo.
Palavras de conveniência, de angústia e dor, 
palavras de adeus e palavras de liberdade. 
Palavras de ordem e palavras de negação. 
Palavras bem construídas
e palavras deformadas ou viradas do avesso.

Através das palavras o desejo do verbo expande-se.

J. Alberto de Oliveira

Imagem:  A. Tapiès